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Beth Carvalho: Madrinha e afilhada ao mesmo tempo

Beth Carvalho: Madrinha e afilhada ao mesmo tempo Beth Carvalho no Fantástico
Divulgação

Beth Carvalho tinha 72 anos de vida, 50 de música e menos de samba. Ela fez parte de uma geração de jovens cantores e compositores que chegavam meio atrasados para a bossa nova, mas no momento certo para incendiar plateias nas noites de festival. Nenhum desses jovens estava muito interessados em samba. Na época, outra vez em baixa.

Compreende-se por que Beth, tendo nascido entre batuqueiros e já apaixonada pela Mangueira, não fez do samba a sua primeira escolha. Ninguém naquela geração festivalesca seguia os passos dos também jovens Paulinho da Viola e Élton Medeiros, ou do mais velho Zé Kéti, ou dos ainda mais velhos Cartola e Nélson Cavaquinho. Para aparecer em festival, Paulinho, por exemplo, teve que fazer algo muito diferente: “Sinal fechado”.

Mas o samba, como sempre aconteceu (e como voltaria a acontecer), logo passaria por nova fase de reabilitação. Aquele renascer das cinzas a que o gênero está obrigado sempre que alguém lhe assina o atestado de óbito. Ou o tantas vezes repetido “agoniza, mas não morre” de Nélson Sargento. Beth aderiu ao samba como parte do movimento pós-Zicartola.

E fez isso com brilho. Empolgada, entregue, alegre, tornou-se sambista com tal empolgação que não tardou a ser notada. Pelos grandes nomes do samba e pela turma jovem que começava a abraçar o pagode, o sambão, a música de raiz, ou que outro nome foi ganhando a mais carioca das músicas.

Não foi a única e se dar ao abraço. Clara Nunes, sua rival, também trocou o que cantava em seu começo de carreira pelo samba das escolas, dos terreiros, dos fundos de quintal. A rivalidade entre as duas marcou uma época na história das vozes femininas da música popular. Um briga de gigantes. Perto de sua rivalidade, o que Marlene e Emilinha viveram nos tempos do rádio não passou de amizade de infância.

Clara e Beth eram duas poderosas cantoras. Não vale compará-las, sobretudo hoje, quando já não as temos. Nem devemos discutir qual das duas foi a verdadeira “madrinha do samba”. O título ficou com Beth por direito e justiça. Foi quem descobriu mais gente, foi quem correu atrás de Cartola e Nélson Cavaquinho para ajudar a mantê-los vivos e é por quem vemos sambistas de todas épocas chorar.

Beth Carvalho é caso único de afilhada que virou madrinha. Madrinha do samba pelo que já se disse. E, salva e protegida pelo samba, foi sua afilhada mais querida.